quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O Grito da Montanha.

Em uma montanha , onde quase nunca o sol nascia, morava um homem solitário, seu nome era Allan, usava uma calça  desbotada e rasgada já pelos anos de uso, tinha dois par de camisas no qual alternava os dias de seu uso, e tinha um chapéu de cor de ouro, no qual tinha um ciúmes enorme daquela peça, segundo ele era herança de seu pai, que morrera em um campo de batalha. Sua aparência física não era nada agradável, seus olhos eram negros da cor do lago em que morava perto, sua barba já envelhecida e grisalha, há décadas que não era feita, e seus cabelos eram longos na altura do ombro, e seu cheiro era como se fosse de um animal morto a dias.
Sua vida era muito pacata, pela manha levantava de sua cama que fazia um zumbido estridente, colocava suas calças, e calcava suas botas de cano alto, e apanhava em cima de uma mesinha no canto papel e fumo, e logo pela manhã acendia um cigarro, e ia fazer um chá de folhas silvestres, no qual apanhava em um pequeno campo situado no topo da montanha. Na parte da tarde apanhava seu velho rifle já enferrujado, que apesar de tudo isso, tinha uma precisão incrível, e assim ele saia para sua caçada, quase sempre trazia algum animal de pequeno porte, que a noite virava seu jantar.
Porém em noite de lua cheia Allan não era um dos mais amigáveis, ele se transforma em uma criatura sombria e monstruosa, com pelos negros por todo corpo, olhos de ira que vertiam sangue, e sua mandíbula era saltada para frente com longos e afiados dentes, e com muita dificuldade andar de duas patas, todos temiam o ‘lobisomem da montanha’ e por isso sua solidão, uma criatura sanguinária, que não olhava quem, apenas matava por instinto, um lobo da noite, a verdadeira face do mal em vida.
Aos pés daquela montanha, havia um pequeno vilarejo onde algumas famílias moravam, o medo reinava naquele fim de mundo, pessoas cabisbaixas, com semblante de pavor, olhos chorosos, mendigos jogados nas beiras das estradas de chão, como cães que buscam insistentemente migalhas de pão que caem das mesas dos bares, onde a depravação e o alcoolismo mira níveis alarmantes, e a única esperança que eles tem é morte para poder vir buscar eles, e essa morte tinha um nome, e seu nome era Allan.
Mas em meio a tanta libertinagem e falta de amor, havia uma moça chamada Luna, com lindos olhos negros, e uma pele branca assim como o luar, seu rosto e seu corpo era motivo de cobiça dentre os homens, todos queriam sua mão em casamento, por onde passava seu perfume de flores campestres era exalado fazendo com que qualquer um se apaixonasse pela belíssima moça, que irradiava ternura por onde passava.
Em uma das tardes Allan, desceu a montanha para pode coletar algumas frutas raras e poder olhar a cara de desespero dos moradores do vilarejo, porém ao olhar o vilarejo, Allan se depara coma belíssima face de Luna, e por alguns instantes seus olhos se cruzaram sendo o bastante para a terrível criatura desejar a admirável moça.
Contudo Allan após a troca de olhares, não se deixou levar pelos seus encantos, e ao voltar para seu casebre, pega uma garrafa de cachaça e se embriaga na beirada do lago, onde acabou dormindo em meio da vegetação que cheirava a bolor devido a grande humidade da selva, mas algo de terrível estava para acontecer, era noite de lua cheia e Allan pela primeira vez há anos, estava solto em meio à mata.
A noite não era das melhores, o vento fazia barulhos iguais de assovios em meio as grandes arvores, parecia que tudo iria voar devidos os fortes ventos, e Allan ali deitado em meio a folhas secas, encostando a cabeça em uma pedra desconfortável, mal sabia ele que naquela noite algo terrível estava prestes a acontecer, era noite de lua cheia, e em noites de lua cheia ele era acostumado a se trancar em casa, porém a fera estava solta, repousando na beira do lago. Em contrapartida Luna, tinha acabado de sair de sua casa, havia lagrimas em seus olhos, eram como se fossem rios que desciam a montanha, ela estava arrasada, porque ela viu sua maior paixão, beijando a boca de uma das vadias que ficavam se oferecendo nos bares e esquinas, sua situação não era das melhores, a cor prateada do céu e o brilho da lua, refletia seu adorno prateado que utilizava para prender suas longas madeixas negras, seu vestido era todo em branco, e havia um laço central que prendia sua barriga, este laço era vermelho sangue, partiu rumo ao banquinho de madeira já bem gasto na entrada da montanha, onde se assentou e chorou desesperadamente.
Na beira do lago, Allan sentia as primeiras dores da sua terrível transformação, os pelos começavam a aparecer por toda sua pele, suas mãos estavam se distorcendo toda, as unhas começaram a rasgar a carne de seus dedos, os ossos de seus braços começaram a se dilatar, e seus gemidos de dores eram constantes, toda sua face sendo dilacerada por dentes monstruosos, e um focinho comprido que farejava o sangue, que corria nas veias de Luna. Os pássaros da montanha estavam inquietos, e toda natureza em volta com medo da criatura que acabara de renascer na beira de um lago, e que caminhava de forma compassada, a fim de localizar sua vitima com mais clareza, e saborear o doce sabor do sangue delas, um sanguinário estava solta, e por azar Luna estava sozinha aos pés daquela terrível montanha.
No vilarejo a tensão, e o medo estavam estampados na face daquelas pobres pessoas, no pai de Luna a apreensão e a covardia eram evidentes, o suor escorria por seu rosto, descendo da têmpora esquerda ate encontrar os pequenos fiapos de bigode, que eram aparados regularmente de dois em dois dias, sua mãe gritava desesperada por toda casa, achando que Luna estava escondida dentro de um dos cômodos. Os moradores estavam atordoados, com os uivos do lobo, que soava como uma marcha fúnebre, a pequena cidade virou um pequeno funeral de uma hora para outra, onde os cadáveres eram deles mesmos.
Allan já estava sentindo a presença marcante de Luna, e estava indo de encontro com sua vitima, seu andar era de cautela como se fosse uma leoa cortejando sua presa, um verdadeiro cortejo da morte, Allan já sentia o doce perfume que exalava de seus pulsos, o animal sentia o pulsar das artérias e o medo que corpo de Luna sentia, era algo que deixava em transe, uma verdadeira paralisia do medo, que a deixava estática, e o desespero de seus olhos era algo aterrorizante, era o encontro com a morte.
Quando finalmente os corpos se encontraram, o sangue que corria em suas artérias fora logo precipitado do centro de seu pescoço, quando com um golpe rápido e certeiro, atingiu seu pescoço, fazendo jorrar sangue pelas folhas do chão,  respingando nas arvores e deixando todo local com uma coloração avermelhada,  seu coração ainda batia quando a fera atingiu seu abdômen  com seus grandes dentes, tirando suas entranhas , e as jogando ao lado de seu corpo, já pálido e sem vida, e o fedor que exalava era forte, igual de animais que são dilacerados de forma brutal por seus predadores.
Uma morte sem gritos, igual matar um cordeiro,  apenas lagrimas e desespero, seus braços estavam completamente dilacerados assim como pernas e pés, no qual se via os seus ossos, brancos igual a cor da lua na qual iluminava a noite. Sua cabeça estava pensa para o lado direito , apenas sendo sustentadas por alguns nervos e músculos, no qual fora completamente estraçalhados quando a fera puxou com violência sua cabeça, a levando para o alto da montanha, os restos mortais de Luna estavam sem coloração, sua pele estava pálida, e as veias de seu corpo estavam azuladas, devido a grande perca de sangue, e também pela coagulação evidente de seus glóbulos.
Após essa cena, veio o silencio, que teve o poder de calar um vilarejo por longos minutos, as prostitutas param de fazer sexo, os bêbados não beberam outro gole, e o grande Xerife não teve nenhuma reação apenas o desespero, o medo que por inúmeras vezes foi o maior companheiro de sua vida.
As manchas de sangue e o forte cheiro, foi a evidencia real que algo aterrorizante ocorreu aos pé daquela montanha, o desespero foi o maior ao ver que sua filha Luna, estava esquartejada e mastigada igual um pedaço de carne que fora consumido em um jantar qualquer.
A reação foi imediata os moradores comovidos pelas dores do Xerife, resolveram fazer justiça, que soava como uma libertação de toda maldição acarretada por aquela terrível criatura. Então se reunindo em grupos menores, começaram as buscas pelo lobisomem, que estava de tocaia igual uma cobra naja, que sente o perigo e arma o bote, e após isso atava com extrema velocidade e precisão.
Conforme subia os grupos, as cabeças rolavam , manchando de sangue o monte , verdadeiros rios de sangue acompanhados de  um cheiro de coisa podre vinha da montanha, a morte estava de serviço a noite, e ela não iria parar ate o amanhecer, que quando chegou, a terrível criatura adormeceu, então um grupo  de caçadores locais o encontrou, e vendo que estava dormindo, jogou seu corpo nu dentro do lago, fazendo Allan despertar, e ver a chacina que cometera , as cabeças de moradores inocentes na margem do lago, e uma carabina apontada para sua testa.
Allan foi finalmente preso, em uma pequena cela do vilarejo, que fica no subterrâneo da delegacia, onde nem a lua e nem o sol  tem contato mais com a criatura, uma verdadeira fera presa em sua jaula, um animal adormecido, simplesmente a morte tirando férias.